O início da história da psicanálise

Como se iniciou a técnica da associação livre proposta por Freud?

Dra. Claudia Maquiaveli

10/13/20252 min read

Freud realizou os primeiros estudos sobre a histeria ao lado do médico psiquiatra e fisiologista Josef Breuer (1893-1985). Ele e Breuer realizaram importantes avanços no tratamento da neurose histérica com a utilização da hipnose. No entanto, a observação de que muitos dos sintomas neuróticos tinham um desaparecimento apenas temporário, e que algumas pacientes não poderiam ser hipnotizadas (o próprio Freud não se considerava um bom hipnotizador), levou-o à busca de uma nova forma de tratamento. Nesse momento, Freud inicia o processo de elaboração e aplicação de um novo método de análise: a associação livre. Um método que consistia em deixar o paciente falar livremente o que viesse à sua mente sem restrições ou julgamentos. No entanto, o tratamento da paciente histérica Emmy Von N levou-o a uma importante descoberta. A Sra. Von N chamou a atenção de Freud quanto às constantes indagações feitas por ele enquanto a paciente falava, portanto, ele estaria interrompendo a todo momento, o que atrapalhava o acesso ao conteúdo que deveria ser trazido ao consciente. Esse fato despertou em Freud a consciência da importância da fala livre do paciente e da escuta ativa no processo psicanalítico, como forma de trazer ao consciente conteúdos reprimidos.

"Talvez, por causa desse famoso caso clínico e outros "babados", muitos leigos achem que se forem para uma sessão de análise, o psicanalista não abrirá a boca, mas, isso não é verdade!"

Continuando nossa história...

Através da escuta da fala livre das pacientes, Freud postulou que as neuroses histéricas se desenvolveriam a partir de eventos insuportáveis e traumáticos, ocorridos na infância, que seriam esquecidos e recalcados no inconsciente. Ele constatou que muitos desses eventos traumáticos, na verdade, eram fantasias. Essas fantasias eram construídas a partir de impulsos libidinais, geralmente relacionados a um de seus progenitores. Na eminência de que esses impulsos libidinais originados no inconsciente pudessem escapar para o pré-consciente, e deste para o consciente, eles seriam aprisionados (recalcados) pela barreira da censura. No entanto, ao retornar ao inconsciente, os impulsos novamente carregados de energia pulsional (catexia) poderiam se separar do seu representante (afeto, objeto ou ideia). Esses impulsos carregados de energia, ao escapar e transitar para o consciente, buscariam um novo representante e se manifestariam na forma de fantasias e sintomas característicos das neuroses. Esse retorno ao consciente da carga pulsional reprimida foi denominado por Freud como retorno do recalcado. Portanto, ao deixar o paciente falar livremente, analisante poderia revisitar os conteúdos do inconsciente que seriam utilizados pelo analista como “pistas” interpretativas que levariam ao conteúdo reprimido. A partir do momento em que esses conteúdos reprimidos se tornassem conscientes, o paciente alcançaria a cura e, consequentemente, o alívio ou eliminação dos sintomas. Hoje sabemos que não é bem assim, o próprio Freud também refez sua teoria, sabendo que não basta trazer ao consciente conteúdos recalcados para eliminar os sintomas. De qualquer forma, o método de associação livre desenvolvido por Freud, conhecido como a “cura pela palavra”, é a base do método psicanalítico contemporâneo. Na psicanálise, falar cura, mas é preciso o silêncio, escuta ativa, interpretação e intervenção do analista.

"Neuroses todos temos, mas sofrer excessivamente por aquilo que não conhecemos em nós é perder a oportunidade de ter uma vida mais interessante!"

Claudia Maquiaveli